Felicidade é produtividade: o ROI invisível da saúde mental

30 de setembro de 2025

Natalia Bonfim é sócia do Melo e Isaac Advogados

Nesse último mês, lendo o livro ‘O Jeito Harvard de Ser Feliz’, uma frase me marcou: “a felicidade é a vantagem competitiva”. Isso me fez refletir sobre o quanto, no nosso escritório, já percebemos na prática que, quando alguém está bem, todo o time rende melhor. Mas essa realidade exige estrutura e aí entra a gestão da saúde mental como estratégia de risco e de cultura organizacional.

Segundo Shawn Achor, psicólogo e autor do livro, emoções positivas ampliam a capacidade cerebral, melhoram o foco, a criatividade e a tomada de decisões, componentes essenciais para a performance no ambiente de trabalho. O que nos faz concluir que ser feliz aumenta as suas chances de sucesso e não o contrário, como costumávamos acreditar.

Em contrapartida, existe um dado alarmante na nossa área: pesquisadores descobriram que advogados apresentam índice de depressão três maior que a média. Ou seja, precisamos, urgente, deixar de tratar o bem-estar como um detalhe.

Mas como transformar esse discurso em prática? Falar sobre felicidade no trabalho não é promover positividade tóxica ou encobrir realidades difíceis com frases motivacionais. Trata-se de estruturar ambientes em que as pessoas sintam segurança psicológica, pertencimento e propósito. E, principalmente, de reconhecer que isso não acontece por acaso. A felicidade no trabalho exige estratégia.

Três pilares sustentam esse caminho: diagnóstico, plano e treinamento.

Diagnóstico é o ponto de partida. Não dá para cuidar do que não se enxerga. Escutar ativamente, aplicar pesquisas de clima, entender os motivos por trás das saídas ou dos silêncios da equipe são formas de mapear riscos psicossociais.

Plano é o que transforma intenção em ação. Criar canais de escuta, estabelecer rotinas de feedback, incentivar o uso consciente do tempo, valorizar iniciativas de autocuidado. Tudo isso pode (e deve) estar em um plano de gestão de saúde mental, conectado à cultura da organização e ao seu modelo de negócio.

Treinamento é o que sustenta a cultura no longo prazo. Líderes precisam ser preparados para lidar com pessoas, e não apenas com metas. Saber escutar, reconhecer sinais de exaustão, conduzir conversas difíceis. Mas também celebrar avanços, encorajar pausas, cultivar vínculos saudáveis. No fundo, é sobre construir relações de confiança.

E o que a legislação tem a ver com isso? Tudo. A NR-01 estabelece que toda empresa precisa identificar e gerenciar os riscos ocupacionais — inclusive os riscos psicossociais. E a partir de 2026, essa fiscalização será intensificada. Isso significa que cuidar da saúde mental deixou de ser apenas uma escolha ética e se tornou também uma exigência regulatória.

Empresas que não agirem preventivamente assumem riscos jurídicos, financeiros e reputacionais. As que agirem agora, por outro lado, estarão um passo à frente, não só da fiscalização, mas também da concorrência.

Porque, no fim das contas, o que move uma organização são as pessoas. E pessoas felizes não só produzem mais, elas constroem ambientes mais criativos, mais colaborativos e, acima de tudo, mais humanos.

Deixo, então, uma reflexão: se a felicidade é vantagem competitiva, por que ainda tratar o bem-estar como detalhe?